sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gestão e Conservação da Paisagem da Várzea de Cacela

Pombais e Edifícios de Apoio em Contexto Rural ou Natural

Realojamento dos animais domésticos da Vila de Cacela 2003.

Carlos de Melo
Miguel Coelho
Teresa Patrício

Tendo a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António (CMVRSA) iniciado um processo de demolição dos galinheiros e pombais de Cacela, justificado pelo projecto Castrum e posteriores escavações arqueológicas, entendeu a ADRIP que sendo os pombos e as galinhas uma presença ancestral na paisagem e cultura desta vila, haveria por certo uma solução que não fosse acabar com a presença destes animais, visto que os seus proprietários não dispunham de terra própria para o realojamento.

Assim, a ADRIP levou a cabo um projecto de realojamento dos animais domésticos, aprovado pela CMVRSA e Parque Natural da Ria Formosa (PNRF) e financiado pela CMVRSA.

O projecto elegeu o terreno camarário da várzea de Cacela, onde foram instalados três edifícios de madeira e respectivo perímetro de apoio definido por uma cerca. Das três unidades, uma funciona como galinheiro e as outras como pombais. Os três edifícios previstos no projecto destinaram-se a satisfazer as necessidades dos habitantes da vila.

Atentos à memória do lugar, o projecto inscreveu-se cabalmente no seu território rural, procurando viabilizar as condições concretas de permanência da paisagem humanizada sem contudo descorar outros aspectos relevantes para a gestão e conservação da paisagem natural envolvente.





Situação anterior

Projecto Oliveiras 2003


Carlos de Melo
Teresa Patrício

O Projecto Oliveiras pretende conservar e manter a paisagem natural da várzea de Cacela. Para tal foi construído um talude onde foram plantadas vinte e seis Olea europaea centenárias (Oliveira), quatro Ceratonia siliqua L. centenárias (Alfarrofeira), cinquenta Chamaerops humilis (Palmeira-anã), quatro Arbutus unedo (Medronheiro), seis Viburnum tinus ( Folhado), seis Pistacia lentiscus (Aroeira), e seis Myrtus communis (Murta). Este talude visa delimitar dois espaços diferentes: o espaço a naturalizar e o espaço de acção de variadas actividades culturais sendo que entre os dois espaços foi aberto um caminho corta-fogo, que pretende de futuro vir a ser também o início de um percurso de passeios pedestres.

Outro aspecto de elevada importância, que não podemos deixar de referir é que este talude é um elemento fundamental para travar o avançado estado de erosão do solo. Graças a ele, a morfologia do lugar tem-se mantido inalterável.



2010

Reabilitação do talude e continuação da plantação iniciada em 2003


Espécies plantadas:

Erica arborea (Urze branca)
Viburnum tinus (Folhado)
Phillyrea angustifolia (Lentisco)
Arbutus unedo (Medronheiro)
Olea europaea (Oliveira)
Ceratonia siliqua (Aroeira)
Spartium junceum (Giesteira)



Por onde sopra o vento

Escultura de Ricardo Batista

Integrou o projeto "CACELAOvento" e permanece no lugar.


Espécies plantadas em 2011:

Quercus coccifera (Carrasco)
Rhamnus lycioides subsp. oleoides (Espinheiro-preto)
Olea europaea var.sylvestris (Zambujeiro)
Rosmarinus eriocalyx (Alecrim rasteiro)
Rosmarinus officinalis (Alecrim do monte)


2012

Reabilitação anual do talude.
Controlo e erradicação de espécies não indígenas invasoras .

Espécies plantadas:

Tamarix africana (Tamargueira)
Ceratonia siliqua (Aroeira)


ARBORIZAÇÃO DA VÁRZEA DE CACELA       

Após a delimitação da Várzea de Cacela para uso de estacionamento automóvel complementar ao já existente, e na continuidade do PROJETO OLIVEIRAS, segue-se uma plantação de um mínimo de 98 árvores (oliveiras e amendoeiras). Para além do valor ambiental que uma plantação comporta, existe o valor estético de uma Várzea bem cuidada. Porque a crise aguça o engenho, esta fase do projeto contempla a participação dos cidadãos, convidando-os a comprar uma árvore e a apadrinhá-la por 7€ (custo da árvore). Este projeto foca principalmente a reabilitação de um território, que ao longo dos anos se vem a deteriorar pelo uso inadequado de estacionamento automóvel e caravanas. A partir de 2010, o assoreamento da ria, provocado pela abertura de uma barra marítima frente a Cacela, deu origem a que o acesso à praia pela Várzea fosse massivo e por consequência, o estacionamento de viaturas também, o que criou uma fronteira entre o JARDIM REPRESENTATIVO DA FLORA DO ALGARVE, o CAMPO ARQUEOLÓGICO e a Várzea. O pisoteio excessivo dessas viaturas e o lixo deixado pelas mesmas, fizeram com que um lugar outrora agrícola, se tornasse num terreiro sem interesse, onde reinam a desmineralização do solo e a erosão do mesmo. Urge pois, iniciar uma arborização da Várzea, começando como já foi referido, pela delimitação do terreno com estacas de madeira para uso de estacionamento automóvel, cuja execução ficou a cargo dos serviços da Câmara Municipal. Terminada a delimitação, segue-se a lavragem do terreno, a montagem de um sistema de rega gota a gota e por fim, a plantação das árvores apadrinhadas (e amadrinhadas).

Em Portugal quase sem exceção, as envolventes dos lugares são sítios muito mal tratados, cheios de lixo, restos de obras da construção civil e restos de máquinas que deixaram de ter uma função. Cacela, não foge à regra: o talude sul da muralha, a vereda a sul que vai dar à ria e a Várzea, os três pontos que delimitam a Vila, são bem a prova desse estado de coisas.

Quando foi iniciada a proposta de apadrinhamento das árvores a plantar, estávamos longe de imaginar o impacto positivo que veio a gerar nos cidadãos a nível local e nacional, o carinho com que as famílias apadrinharam árvores para oferecer aos filhos, netos, sobrinhos e amigos, numa altura em que os fogos arrasam com grandes extensões do nosso território, nomeadamente este verão no concelho de Tavira. Tal entusiasmo prova que Cacela é «a menina dos olhos de muita gente», não só pelas belezas balneares, mas por merecer que se aposte numa envolvente que a dignifique ambiental e poeticamente como um todo. Por certo que este projeto vai suscitar esse olhar.




Jardim Representativo da Flora do Algarve 2009

Teresa Patrício




Na continuidade do Projecto Oliveiras surge em Março e Abril o Jardim Representativo da Flora do Algarve.

Urbanizações, terras de cultivo e pastoreio, entulhos, campos de golfe, a introdução de maquinaria pesada para limpeza dos matos e o desinteresse quase generalizado pela flora autóctone em detrimento das plantas exóticas levaram a que, no litoral do conselho de Vila Real de Santo António, existam apenas duas ou três pequenas manchas da flora Algarvia que vai desaparecendo diante dos nossos olhos.

Este jardim tem como objectivo reunir o maior número de espécies desta flora, dando particular atenção às que se encontram extintas ou em vias de extinção nesta área do litoral, como por exemplo a Chamaerops humilis (Palmeira-anã).


1ª Fase


Preparação do terreno com máquinas (apoio serviços camarários, Centro de Investigação e Informação de Santa Rita (CIIP);

Implantação do sistema de rega (apoio serviços camarários);
Escolha das espécies autóctones a plantar (responsáveis ADRIP e CIIP);
Primeira plantação levada a cabo pelas escolas no âmbito do projecto "Para que servem as plantas? Usos antigos da flora Algarvia", CIIP;
Manutenção da plantação e sua envolvência, ADRIP;
As espécies plantadas nesta primeira fase, são provenientes de viveiro comercial.




2010

Criação e manutenção de um viveiro de espécies que não se encontram no mercado;
Procura e reconhecimento das espécies;
Recolha das espécies que se encontram em perigo de sobrevivência;
Recolha de sementes;
Sinalética das espécies.

Visitas ao Jardim

1 de Junho

No âmbito do projecto "Para que servem as plantas", realizou-se uma visita de estudo com a Associação de Saúde Mental do Algarve (ASMAL), organizada pelo CIIP e apresentada pela ADRIP.
Teve como tema o "Pousio da terra" e uma recolha de sementes.

20 de Julho

Monitores e intérpretes do Património Natural e Cultural do Baixo Guadiana.


2011

Visitas ao Jardim


22 de Fevereiro

Na sequência da recolha de sementes feita em Junho de 2010 com a Associação ASMAL, procedeu-se à plantação das mesmas com uma visita ao jardim.


Saquinhos de gaveta

Os saquinhos de flor de alfazema, chamados saquinhos de gaveta, eram usados antigamente (hoje menos) nas gavetas da roupa, pelo maravilhoso cheiro e porque, diz-se, que afasta as traças.

Porque “a crise aguça o engenho”, estão a ser feitos e promovidos estes saquinhos de gaveta com a flor que as alfazemas produziram. O lucro deste trabalho reverte para a sustentabilidade do jardim, conceito pelo qual se rege esta iniciativa.


2012

De interesse Público, o Jardim Representativo da Flora do Algarve tem sido visitado por um grande número de pessoas que passeiam ao longo de várzea. A especificidade das espécies e o enquadramento paisagístico são o seu principal interesse.


Espécies plantadas desde 2009

Arbutus unedo (Medronheiro)
Coronilla valentina subs. glauca (Pascoinha)
Salvia officinalis (Salva)
Myrtus communis (Murta)
Cistus cripus (Roselha)
Cistus ladanifer (Esteva)
Cistus populifolius (Estevão)
Cistus monspeliensis (Sargaço)
Cistus albidus (Roselha maior)
Lavandula latifolia (Alfazema)
Lavandula stoechas (Rosmaninho)
Lavandula dentata (Alfazema dentada)
Lavandula viridis (Rosmaninho branco)
Helichrysum decumbens
Helichrysum stoechas (Perpétua-das-areias)
Tymus mastichina (Bela luz)
Thimbra capitata (Tomilho de creta)
Teucrium haenseleri (Erva do incenso)
Rosmarinus officinalis (Alecrim do monte)
Rosmarinus eriocalix (Alecrim rasteiro)
Phlomis purpurea (Marioila)
Calamintha baetica (Nêveda)
Ruscus aculeatus (Gilbardeira) - Espécie do Anexo V da Diretiva 92/43 CEE de 21 de Maio de 1992 (Flores da Arrabida, José G. Pedro e Eduarda S. Santos, 1998 ICN.
Ruta chalepensis (Arruda)
Erica arborea (Urze branca)
Muscari neglectum
Muscari comosum (Jacinto das searas)
Scilla monophyllos
Narcissus bulbocodium (Campainhas amarelas) - Espécie do Anexo V da Diretiva 92/43 CEE de 21 de Maio de 1992 (Flores da Arrabida, José G. Pedro e Eduarda S. Santos, 1998 ICN.
Narcissus papyraceus subsp. panizzianus (Narciso de inverno)
Pancratium maritimum (Lírio-das-areias)
Allium sphaerocephalon subsp. sphaerocephalon (Alho bravo)
Allium roseum (Alho rosado)
Daphne gnidium (Trovisco)
Linaria amethystea
Asparagus acutifolius (Espargueira)
Tamarix africana (Tamargueira)
Linum usitatissimum (Linho)
Prunus dulcis (Amendoeira)
Chamaerops humilis (Palmeira-anã)
Quercus coccifera (Carrasco)
Phillyrea angustifólia (Lentisco)
Olea europaea subs. Sylvestris (Zambujeiro)
Viburnum tinus (Folhado)
Rhamnus lycioides subs. oleoides (Espinheiro preto)
Anthemis maritima
Sedum sediforme ( Erva pinheira)
Laurus nobilis (Loureiro)
Poterium sanguisorba
Ceratonia siliqua ( Alfarrobeira)
Ficus carica ( Figueira)
Pistacia lentiscus (Aroeira)




Folheto informativo, em elaboração.







Sem comentários:

Enviar um comentário